“Triste é, mas não é todo mundo que tem essa oportunidade de o médico vir em casa. Estou com esse privilégio”, comentou Ângela sobre a equipe de Cuidados Paliativos; no sofá, técnica de enfermagem e psicóloga conversam com ela
JOANA SUAREZ
Quando sobra pouco, a vida torna-se preciosa. Um jovem de 35 anos, desolado com um câncer raro e incurável na pleura, teve alta do hospital e foi para casa. Passaram-se apenas dois dias, e precisou retornar à unidade, pois o tumor piorara. Mas emocionou a equipe médica com seu relato de gratidão por ter conseguido, nas poucas horas sem regras institucionais, receber mais de 60 visitas e rever a árvore em frente a sua casa – faleceu menos de três meses depois. “A gente não dá alta para o paciente morrer em casa, a gente dá alta para ele viver”, diz o geriatra Fabiano Moraes Pereira, mostrando como sua atuação como paliativista do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte imprime nele um olhar gentil sobre a finitude. Ainda incipiente nas unidades de saúde de Minas Gerais, os Cuidados Paliativos constituem uma área em que nunca se diz a um doente incurável que não há mais nada a ser feito, já que até o fim é vida.
Apesar de inevitável, a morte não precisa ser ruim – ela pode ser digna. Esta é a busca diária dos profissionais paliativistas: afastar o sofrimento e a dor para que a pessoa em fase terminal possa desfrutar os dias que lhe restam em casa, perto de suas lembranças e familiares. É uma equipe que quer saber o que é mais importante para o paciente e aquilo que mais o incomoda. Não pensam em como “curar”, são estudiosos do “cuidar”.
Desejo
Somos finitos. Nenhuma ciência é capaz de transpor essa condição. Mas, nos últimos 30 anos, médicos e sociedade voltaram-se para os avanços tecnológicos na saúde, “crentes de que sempre há uma solução, mais um exame e uma intervenção a serem feitos”, conta Beatriz Birchal, presidente da Sociedade de Tanatologia e Cuidado Paliativo de Minas Gerais (Sotamig). Definitivamente, não é possível resolver tudo, pensa ela. “Continuamos mortais, e chega uma hora em que temos apenas que cuidar. Não é só tentar evitar o fim, é saber qual a melhor maneira de abordá-lo, mas pouca gente está atenta a isso”.
A pesquisa Últimos Pedidos, realizada em quatro grandes países – Estados Unidos, Brasil, Itália e Japão –, mostrou que os desejos dos doentes terminais são quase sempre desconhecidos ou ignorados por pessoas próximas. Apresentada em abril deste ano pela revista britânica “The Economist”, em parceria com a fundação Família Kaiser (um centro de estudos em saúde), a pesquisa concluiu que mais de um terço dos entrevistados não sabiam o que o parente queria no fim da vida, como, por exemplo, assistir a um evento especial, como um casamento, mesmo que deixar o hospital fosse um risco.
Entre 12% e 24% dos que conheciam os desejos dos entes queridos disseram que tais vontades não foram realizadas. Mais ainda, entre 25% e 38%, afirmaram que os pacientes tinham experimentado dores desnecessárias em estágios terminais. A maioria classificou a qualidade dos cuidados no fim da vida como “razoável” ou “ruim”.
A psicóloga oncológica e paliativista Francine Portela menciona que outros estudos internacionais revelam também que pessoas que recebem cuidados paliativos vivem mais tempo, com menos dor e depressão do que os que são submetidos ao tratamento padrão. Os primeiros “ficam ao lado de quem desejam, realizando sonhos, coisas importantes”, explica.
As preferências do paciente e a prevenção da
Moro
Foto: Heuler Andrey / AFP
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, declarou nesta quinta-feira(5), que a Câmara dos Deputados poderia “ter ido além”, preservando pontos do projeto de lei do pacote anticrime (PL 10372/18) que o governo federal enviou à Casa, aprovado na quarta (4), que ele considera importantes para o combate à criminalidade, principalmente aos crimes violentos.
“O Ministério da Justiça e Segurança Pública vê com bons olhos a aprovação de boa parte das medidas recomendadas [no projeto original]. Sem prejuízo de entender que o Congresso poderia ter ido além, [poderia] ter feito mais”, disse Moro.
Aprovado por 408 votos favoráveis, nove contrários e duas abstenções, o PL agora segue para análise do Senado, onde Moro acredita que parte das propostas defendidas pelo governo federal podem ser reincluídas.
“Em relação ao que não foi aprovado [na Câmara], vamos trabalhar para reestabelecer no Senado, ou, eventualmente, por projeto à parte. Isso faz parte do jogo democrático”, disse Moro, enfatizando que, apesar das ressalvas, considera um avanço o resultado na Câmara dos Deputados.
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"Boa parte do projeto [original] foi aprovada. Vemos com bons olhos o fato do projeto ter finalmente sido votado na Câmara”, disse Moro, destacando, entre os principais pontos da proposta aprovada, a possibilidade de execução da pena em caso do réu ser condenado em tribunal do júri a uma pena superior a 15 anos, parâmetro temporal estabelecido pelos deputados.
“A Câmara aprovou esse patamar da pena de 15 anos. Sinceramente, acho que não precisava estabelecer isso, mas, inegavelmente, já é um grande avanço. Melhor termos essa possibilidade do que esperarmos 20 anos para termos um julgamento de assassinato finalizado e o início do cumprimento da pena”, disse o ministro.
Ele ressaltou a aprovação da atuação de agentes policiais disfarçados e, principalmente, o maior rigor na concessão de benefícios para presos condenados por envolvimento com organizações criminosas. “A proibição de [concessão de] progressão de regime para o condenado que permanecer faccionado é uma norma extremamente importante que, a meu ver, vai ser um fator extremamente positivo para enfraquecer facções criminosas. Há uma série de pontos extremamente relevantes e que representam o endurecimento da Justiça e da Segurança Pública, como a proibição de saída temporária de quem foi condenado por crime hediondo”.
Moro lamentou, no entanto, a resistência dos deputados em ampliar o rol de criminosos condenados que podem ter material genético coletado e armazenado em bancos de perfis genéticos administrados pelos órgãos estaduais de segurança pública. Desde 2012, quando foi aprovada a Lei 12.654, há previsão legal para a identificação do perfil genético de condenados por crimes violentos, tais como homicídios e estupros.
“Nosso interesse é ampliar o rol das pessoas sujeitas à coleta do perfil genético. Por isso foi colocado no projeto anticrime. Infelizmente, houve uma certa resistência a essa parte, que não foi aprovada. O que não significa que não vamos tentar novamente ampliar este rol”, disse Moro. dor não são levadas em consideração pela maioria das unidades de saúde, que recebe recursos por procedimentos, faz intervenções invasivas, tentando esticar a vida e, sem sucesso, desampara o doente que “não tem mais jeito”.