Gabriel Pazini | @superfcoficial
27/06/19 - 15h14
A crise no Cruzeiro ganhou mais um capítulo nesta quinta-feira (27). A empresa estadunidense Aubury Dade ajuizou uma ação contra o clube cobrando participação na venda de jogadores das categorias de base.
Na gestão passada, do ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares, a Aubury Dade emprestou 30 mil euros ao Cruzeiro, em julho de 2017, para custear viagens da equipe sub-18 estrelada para torneios na Holanda e no Japão. A Raposa, em contrapartida, iria garantir "participação financeira de 20% dos valores recebidos em eventuais futuras transferências dos atletas participantes dos torneios, que fossem realizadas até 31/08/2018".
A empresa estadunidense alega que quatro atletas foram negociados até 31 de agosto do ano passado: Victor Alexander da Silva, Guilherme William dos Santos, João Diogo Jennings e Natan Ferreira de Carvalho. A Aubury Dade conta que notificou o Cruzeiro pedindo a apresentação da documentação das transferências e o pagamento, mas o clube não se manifestou.
Destes jogadores, Victor Alexander da Silva, o Vitinho, foi vendido ao Cercle Brugge, da Bélgica. O valor da venda não foi divulgado oficialmente, mas alguns veículos da imprensa noticiaram na época que a transação foi de R$ 10 milhões, valor da multa rescisória. Se tiver direito a 20% do valor, a Aubury Dade ficaria com R$ 2 milhões, número 15 vezes maior que a quantia utilizada para o pagamento das viagens.
Os outros três também não estão mais na Raposa. Natan foi para o América junto com Márcio, em troca que mandou Makton para o Cruzeiro. João Diogo foi para o Figueirense e Guilherme para o Náutico. O time mineiro não informou se recebeu algum valor pelas negociações.
A Aubury Dade não sabe dos valores envolvidos nas negociações dos três atletas. Já o balanço financeiro de 2018 do Cruzeiro informa que Natan (100%), João Diogo (100%) e Guilherme (25%) seguem com parte dos direitos econômicos ligados ao clube celeste.
A juíza Moema Miranda Gonçalves, da 9ª vara cível de Belo Horizonte, determinou que o Cruzeiro exiba os documentos e marcou uma audiência de conciliação entre as partes. Como não sabe o valor das transferências de todos os jogadores, a causa é avaliada em R$ 2 milhões, valor da negociação de Vitinho, mas a Aubury Dade requer o pagamento da porcentagem a que tem direito mais os custos do processo. A informação do ajuizamento da ação foi divulgada pelo Globoesporte e confirmada pelo SuperFC.
Em contato com o SuperFC, a assessoria de imprensa do Cruzeiro informou que a diretoria celeste "não irá se manifestar por se tratar de uma operação realizada na gestão anterior".
A reportagem tentou contato várias vezes com o presidente do Cruzeiro na época do acordo com a empresa estadunidense, Gilvan de Pinho Tavares, mas ele não atendeu nem retornou as ligações até o fechamento da matéria.
A parceria entre Cruzeiro e Aubury Dade foi revelada pelo vice-presidente de futebol do clube, Itair Machado, em dezembro de 2018, em entrevista à Rádio Itatiaia. O dirigente disse na época que iria anular a validade do acordo.
Itair, que tratou a situação como "caso de polícia", está sendo investigado. Ele é acusado de envolvimento em transações irregulares e teve 30% de seu salário bloqueado pela Justiça. A diretoria do Cruzeiro é investigada por indícios de pagamentos suspeitos, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, e o presidente Wagner Pires de Sá inclusive prestou depoimento à Polícia Federal na última semana.
Além disso, um grupo de sócios e conselheiros do Cruzeiro entrou com ação ordinária nesta quarta-feira (26) na 22ª Vara Cível de Belo Horizonte pedindo o afastamento de Itair Machado.
O pedido tem como principal argumento a nomeação do dirigente para o cargo, feita pelo presidente Wagner Pires de Sá em janeiro de 2018, que fere o Estatuto do clube e a Lei Pelé, já que o vice-presidente tem histórico de condenações na Justiça.
O grupo é composto por 31 sócios e conselheiros do Cruzeiro. Gilvan de Pinho Tavares está entre eles.
Além do pedido de afastamento de Itair Machado do clube, a ação também pede a nulidade da procuração assinada pelo presidente Wagner Pires de Sá, que dá ao vice-presidente plenos poderes no clube.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) também apura possíveis irregularidades praticadas por dirigentes do Cruzeiro e informou que iniciou o procedimento investigatório criminal.
Relembre o caso
Em 26 de maio, o programa "Fantástico", da TV Globo, exibiu uma matéria que, além de indicar uma dívida de meio bilhão de reais do Cruzeiro, ainda apontou um fato grave.
Segundo a reportagem, algumas transações realizadas pelo clube estrelado foram irregulares. Uma delas teria envolvido um menor de idade em uma negociação de forma ilegal, pela lei brasileira.
Ainda de acordo com a reportagem, o Cruzeiro teria repassado 20% dos direitos de Estevão William, jogador de 12 anos das categorias de base, para o empresário Cristiano Richard, para pagar uma dívida. Pela lei brasileira, o acordo é ilegal, pois negociar serviços de menores de 16 anos é proibido por lei.
Outra irregularidade que teria sido cometida pelo clube é a negociação de direitos do atacante Raniel com o empresário, que não tem registro na CBF, sendo, portanto, proibido de agenciar jogadores.
A reportagem também indicou limitações dadas pela diretoria aos Conselhos Fiscal e Deliberativo, órgãos responsáveis pela fiscalização das finanças cruzeirenses. O Conselho Fiscal era composto por três pessoas: Celso Luiz Chimbida, Geraldo Luiz Brinat e Ubirajara Pires Glória.