Em meio à denúncia de suposta propaganda irregular na internet, que está sendo investigada pelo Ministério Público Federal em Minas Gerais, O TEMPO confirmou que o Partido dos Trabalhadores (PT) tem recrutado influenciadores digitais para produzir conteúdo remunerado em apoio a candidatos da sigla.
Nesta quarta-feira (29), sem saber que se tratava de reportagem, um contato informou ao repórter que tem convocado pessoas com “tendência à esquerda” para compartilhar notícias nas redes sociais em troca de pagamentos que variam de R$ 500 a R$ 2.000.
Reiterando não se tratar de fake news (informações falsas), mas de “notícias reais que favorecem a esquerda”, a mesma pessoa disse que o trabalho era para o PT e que o material seria distribuído por um aplicativo chamado Follow. Follow é a plataforma desenvolvida pela agência de mesmo nome, do deputado federal e candidato ao Senado por Minas Gerais Miguel Corrêa (PT).
Basta uma pesquisa na internet para identificar postagens favoráveis a candidatos petistas, entre eles o próprio Corrêa, o governador e candidato à reeleição Fernando Pimentel e a ex-presidente e candidata ao Senado, Dilma Rousseff, todas impulsionadas pelo Follow.
O procurador regional eleitoral auxiliar Bruno Nominato pediu, na terça-feira, a quebra do sigilo fiscal de seis empresas envolvidas no esquema de difusão de conteúdo remunerado em apoio a candidatos.
Nominato solicitou ainda que a Apple informe em 48 horas todos os usuários que baixaram os aplicativos Follow e O Brasil Feliz de Novo, usado para propagar conteúdos favoráveis a candidatos petistas – incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, preso em Curitiba desde abril. O procurador determinou ainda que o Twitter informe os dados cadastrais de usuários.
A legislação proíbe a propaganda eleitoral paga na internet. O artigo 57-C diz que “é vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos, coligações e candidatos e seus representantes”. A Lei Eleitoral determina que a violação do artigo 57-C resulta em multa de R$ 5.000 a R$ 30 mil. De acordo com o MPF em Minas Gerais, os depoimentos dos envolvidos serão tomados por promotores eleitorais de Belo Horizonte. Somente após a conclusão da apuração é que as informações serão encaminhadas à Procuradoria Eleitoral.
Resposta
Sem retorno. Além de Miguel Corrêa, a reportagem tentou contato com Rodrigo Cardoso, assessor do deputado e sócio da empresa Be Connected, e com a agência Lajoy, mas não obteve êxito.
Petista contesta denúncias
Em nota, o deputado federal Miguel Corrêa (PT) admitiu ser um dos criadores do aplicativo Follow, mas negou que haja pagamento para influenciadores compartilharem notícias favoráveis a candidatos petistas. Dizendo ter sido o candidato ao Senado escolhido pelo partido, ele declarou que não será alcançado pelo “ jogo sujo das ameaças da política velha”. “Tenho 18 anos de vida pública com lisura e firmeza no cumprimento da lei. Continuo aonde sempre estive, ao lado do povo e das leis de meu país”.
Ex-secretário de Estado de Governo e deputado federal, Odair Cunha afirmou que a possibilidade de saída de Corrêa da disputa pelo Senado não está sendo discutida pelo partido. “Ele (Corrêa) tem prestado as explicações devidas e me parece que não há crime na conduta dele”, disse Cunha. Questionado se haveria um “plano B” para a vaga de Corrêa, ele respondeu que “sempre há possibilidade de entendimento dentro do PT e fora do PT”.
O governador e candidato à reeleição Fernando Pimentel afirmou que não vai se envolver na polêmica. “Quem vai decidir o que fazer é o partido”, disse. Nesta semana, o diretório do PT mineiro deve se reunir para discutir a situação. “Tanto o PT nacional, quanto o PT Minas têm uma reunião marcada. A gente vai chamá-lo (Corrêa), dar o direito de defesa, mas o partido vai tomar uma decisão”, afirmou o deputado Reginaldo Lopes. (com Lucas Ragazzi)
Entenda o caso
Denúncia. No Twitter, a jornalista e influenciadora digital Paula Holanda afirmou ter sido convidada para distribuir material de campanha, em troca de dinheiro, por uma agência de marketing digital de Belo Horizonte chamada Lajoy.
Tuítes. A pedido da agência, Paula teria postado material favorável à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e ao candidato ao governo de São Paulo Luiz Marinho.
Desconfiança. Ao ser solicitada a produzir posts favoráveis ao governador do Piauí, Wellington Dias, a influenciadora desconfiou. Depois de não ter recebido pelos dois pedidos anteriormente feitos pela agência mineira, a jornalista teria desistido do trabalho.
Contestação. Presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann se manifestou sobre o assunto em sua conta no Twitter, dizendo que o PT nunca utilizou esse tipo de prática. “Nunca precisamos disso, até porque temos muita presença nas redes sociais. Estamos averiguando o que aconteceu”, escreveu.
Conteúdo. O jornal “O Globo” informou, nesta quarta-feira, que pelo menos 14 candidatos do Partido da República e do PT, entre eles o governador Fernando Pimentel, tiveram conteúdos divulgados nas redes sociais pelo aplicativo Follow.