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Taxas de homicídio em bairros de BH evidenciam contrastes
De um lado, há mais crimes do que em Honduras, país que mais mata, e, do outro, cenário é de sossego 13/08/2018

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PUBLICADO EM 13/08/18 - 03h00

Poucas semanas depois de encontrar o filho caçula morto com dois tiros na cabeça dentro de casa, José*, 51, decidiu colocar o imóvel, no Alto Vera Cruz, na região Leste de Belo Horizonte, à venda. “Todos os dias, ele pedia a bênção para mim e a mãe. Desde que ele morreu, a gente entrou em depressão e vive à base de remédios. A gente perdeu a vontade de morar aqui”, lamenta.

O Alto Vera Cruz é o segundo bairro com mais homicídios na capital, atrás apenas do Centro: foram 40 entre 2015 e 2017. A taxa de assassinatos do bairro no período é de 63,68 por 100 mil habitantes, maior do que a de Honduras, o país com a taxa de assassinatos mais alta no mundo – o índice é 55,5 – é o que mostra cruzamento de dados feito pela reportagem de O TEMPO com base nos dados de homicídio obtidos a partir da Lei de Acesso à Informação. Com os dados de assassinatos em mãos, a reportagem calculou a taxa de todos os bairros (veja infográfico abaixo). 

E o indicador do Alto Vera Cruz ainda está longe de ser a mais alta da cidade, que tem 22 bairros com taxas superiores a 100, como o Primeiro de Maio, na região Norte, que tem taxa três vezes superior a do país da América Central. 

Do outro lado, em uma BH diferente, alguns bairros têm taxas semelhantes às de países desenvolvidos, como o Buritis, na região Oeste, Santo Antônio e Lourdes, na Centro-Sul, que, entre 2015 e 2017, registraram taxas de assassinato equivalentes às de Portugal e Canadá. 

O bairro com maiores índices é o Cidade Jardim Taquaril, na região Leste: ele teve três homicídios no triênio, mas, como só tem 173 moradores, possui uma taxa alta, de 578,03. Segundo os moradores, a realidade do bairro difere do que mostram os números. “O bairro já teve pequenos furtos, mas tem muito tempo que a gente não ouve falar de incidente violento. Acho que esses homicídios não ocorreram aqui. Talvez os corpos tenham sido descartados, mas a presença maior da polícia está inibindo essa prática”, afirma um membro da associação de moradores do bairro, Arthur Nicolato.

No Primeiro de Maio, que tem taxa de 165,22 homicídios por 100 mil habitantes, os moradores dizem que os assassinatos têm caído. “Antes, não era raro acordar e ver pessoas mortas na rua. Hoje em dia, tem mais tráfico de drogas e tem até muito policiamento, mas os policiais só passam abordando os meninos”, contou uma moradora de 40 anos que não quis se identificar.

A pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG Ludmila Ribeiro diz que bairros com taxas maiores de homicídios convivem com a ausência de políticas de prevenção. “Prender depois que cometeu homicídio é enxugar gelo. É necessário que o Estado impeça que os crimes aconteçam”, pontua.

Segundo ela, mudar esse quadro depende de políticas de segurança e sociais, como a implantação de equipamentos públicos de qualidade e a inclusão de jovens. “É preciso pensar em um policiamento comunitário, em que a polícia conheça os moradores e impeça que eles entrem na criminalidade”, diz. O professor da UFMG e pesquisador do Crisp Bráulio Figueiredo, afirma que a concentração espacial dos homicídios é estável no tempo: o problema não são as pessoas, mas as características dos locais: “São bairros pouco estruturados, com escolas de baixa qualidade. Além disso, há a presença do mercado ilegal de drogas e armas. Esses fatores podem provocar a resolução de conflitos com violência”.

O filho de José era usuário de drogas, mas não se sabe se a morte teve relação com o tráfico. “Fiz de tudo, arrumei internação para meu filho, conversei, mas, infelizmente, essa eu perdi”.

Dados inconsistentes

Dos 1.595 homicídios registrados pelo governo de Minas em Belo Horizonte entre 2015 e 2017, 164 (10,28% do total) deles não foram considerados pela reportagem na elaboração da taxa de homicídios. Isso porque 141 casos foram registrados pela Sesp como bairro ‘desconhecido’ e os demais foram catalogados em bairros que o IBGE não reconhece e, por isso, foram desprezados. Ou seja, alguns bairros deveriam ter taxas ainda mais altas do que as verificadas.

Arma facilita desfechos violentos

Intensificar o controle de armas de fogo é essencial para a redução dos homicídios na avaliação de especialistas. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 40% dos assassinatos envolviam o uso de arma no início da década de 80, índice que hoje é de cerca de 70%. “A arma de fogo facilita o desfecho mais violento e, às vezes, fatal nos conflitos”, diz o pesquisador do Ipea Helder Ferreira. “Se o indivíduo tem arma, pode matar porque bebeu demais ou porque o outro mexeu com a mulher dele. É preciso haver um trabalho da polícia para identificar, recolher e destruir as armas”, conclui a pesquisadora do Crisp, da UFMG, Ludmila Ribeiro.

Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), 23.543 armas foram apreendidas em Minas em 2017, maior número entre todos os Estados, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Neste ano, foram 14.193 apreensões até julho.

Respostas

Sesp. A secretaria afirmou que o ranqueamento dos bairros por taxa “não traz panorama fiel, considerando o baixo número populacional das regiões”. Conforme a Sesp, em 2017, foi registrada a menor taxa de assassinatos nos últimos 17 anos em BH.

Município. A Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção informou que está em fase de implantação o Programa de Prevenção à Letalidade Juvenil. Já o Programa de Prevenção ao Crime e à Violência em Territórios atua nas áreas de maior criminalidade.

Saiba mais

Resultado. Estudo do professor da UFMG e pesquisador do Crisp Bráulio Figueiredo mostra que, em dez anos, o programa Fica Vivo! preveniu, em oito áreas, o equivalente a um ano de homicídios em BH. “O programa não pode ser perdido, mas tem que ser repensado”, diz.

Oposto. O presidente da Associação de Moradores do Santo Antônio, Gabriel Coutinho, afirma que se sente seguro no b

 


 

 

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