AS Notícias Online
HOME POLÍCIA POLÍTICA ESPORTE GERAL EVENTOS EMPREGOS AGENDA VÍDEOS CONTATO

GERAL
ABSURDAMENTE GENIAL
08/10/2024

 
Ele manda os gregos e os romanos calarem a boca. “Cesse tudo o que a antiga musa canta que outro valor mais alto se alevanta”, provoca, ou seja: Virgílio e Homero, fiquem quietinhos e prestem atenção, mostrarei o que é uma aventura profunda e real, as navegações portuguesas; superiores, sustenta, às ficções da Eneida e da Odisseia. Havia Grécia e Itália, Camões enfiou Portugal no meio.
 
Li Os Lusíadas na irresponsabilidade dos 21 anos. Há três semanas, ao entrar na minha biblioteca, vento fez se estatelar no chão um livro azul com nau, mapa e um caolho na capa. Bateu no piso como âncora a espancar o azul, pedido ostensivo demais para negligenciar.
 
Comecei a reler a epopeia renascentista, agora com a investigação minuciosa que o adolescente, verde para a vida, não poderia realizar. Nas primeiras estrofes, já estava embevecido com a beleza da ousadia, emocionado como nativo da língua portuguesa, impressionado com o estro do português e desafiado.
 
Camões não facilita: ou o leitor se atira na mitologia grega, na astronomia e na filosofia ou não entenderá centenas dos 8.816 versos, em oitavas decassilábicas. Os Lusíadas dá dor de cabeça, pois para desvendá-lo são necessários outros 30 livros. Sai-se da obra estafado, aturdido, lanhado, mas vitorioso, como quem no século XVI retornava de viagem por “mares nunca dantes navegados”.
 
Coisa antiga, sem conexão atual, dirá um desses seres que chamam dez parágrafos de “textão”. Ah é? Aí o recado de Camões a pilantras tipo Pablo Marçal.
 
“Ó glória de mandar! Ó vã cobiça / Desta vaidade a quem chamamos fama! / Ó fraudulento gosto, que se atiça / Cua aura popular, que honra se chama! / Que castigo tamanho e que justiça / Fazes no peito vão que muito te ama! / Que mortes, que perigos, que tormentas, / Que crueldades neles experimentas!”
 
“Dura inquietação da alma e da vida, / Fonte de desamparos e adultérios, / Sagaz consumidora conhecida / De fazendas, de reinos e de impérios! / Chamam-te ilustre, chamam-te subida, / Sendo digna de infames vitupérios; / Chamam-te Fama e Glória soberana, / Nomes com quem se o povo néscio engana!”
 
Que Júpiter nunca deixe falecer de brasa nosso peito.
 
O TREM
 
Imagem incorporada
 

 
 
 

 


 

 

E-mail: contato@regionaldigital.com.br

REGIONAL DIGITAL 2025. Todos os Direitos Reservados.
REGIONAL DIGITAL
INFORMAÇÃO DE QUALIDADE!
Desenvolvedor: SITE OURO