Barriga grávida por 40 anos de Skol no bar do Helton, um intelecquitual de esquerda do bairro Pará deixa sua stalinka para caminhar no centro de Itabira. Oito passos e destronca o dedão em cratera no asfalto. Vai indo, mancando.
Desce a rua Sady Pereira e vê a rodoviária, lugar imundo, impraticável, cheio de cães pestilentos a disputarem cantos malcheirosos com mendigos. Gente sentada no chão por falta de assentos suficientes.
Sobe a Água Santa. Vê sobrados ofuscados por fios da iluminação pública e, perto da antiga sede da Acita, dá um belo salto olímpico para vencer um bueiro feito com trilhos de linha férrea – armadilhas que causam acidentes em vários pontos.
No largo do Batistinha, vê pichações, monumentos esbagaçados, passeios estourados e peças do patrimônio histórico em horrendas condições de conservação.
Na praça Eurico Camillo, ele, que se diz dendrólatra (pega bem dizê-lo no mundo Woke), vê árvores sufocadas por erva-de-passarinho e outros desleixos.
Perto da Catedral, vê a praça Joaquim Pedro Rosa toda estropiada. Ao lado, poluição de outdoors, mídia anacrônica há muito banida em boas urbes.
Mais que suficiente para desistir do depressivo passeio, mas o intelecquitual do Pará é valente, é forte, tem brio; prossegue.
Num percurso de duas horas, vê gente doente abandonada em praças; vê homens e meninos puxando carroça de reciclável; vê multidão de cães desprezados, sofrendo e transmitindo doenças.
Vê uma câmara de vereadores inepta e inapta, abaixo da crítica; vê obras públicas mal planejadas pela prefeitura, nas quais se gastam — sem necessidade — dezenas de milhões de reais; vê desqualificados em postos de decisão. Vê, vê, vê, vê muita merda mesmo.
Sente o cheiro podre da corrupção, aspira miséria, inala incompetência, come violência, bebe insegurança, na cidade onde ele nasceu e mora, cidade bilionária.
Então, o intelecquitual do Pará chega em casa e, antes do banho, pega o celular e passa zap a amigos. Passa zap a amigos metendo o pau em Donald Trump, Javier Milei e Benjamin Netanyahu.
Intelecquitual de esquerda itabirano, O Escamoso.
O TREM.
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