O Pico do Amor fez jus ao nome hoje cedinho. Mochilas numa touceira de capim-meloso, florzinhas amarelas pedindo um Van Gogh municipal, cheiro de eucalipto, uma árvore alta, elegante, muito saudável — vinhático, talvez — e encostado nela, de pé, um casal, um carinha e uma carinha aí de 16, 17, 18 ou 19 anos, menos de 20, certamente.
Roçavam-se com a fúria fervente do desejo — ebuliente, diria um poeta parnasiano. Muito dedo, muita língua, muito olho, muita carne nova amassada. Logotipos de escola se embaralhavam na camisa branca de ambos, a paixão espremida entre os seios dela e o peito dele.
Os bem-te-vis eram abafados pelo ranger dos ferros da empresa garimpeira Vale, que há 81 anos mordem o corpo de Itabira para arrancar pedaços e vender ao exterior. A Vale está para Itabira como um açougueiro está para o boi, mas o que interessa hoje é o amor.
Abaixo, ao longe, o centro da cidade, e por entre folhas verdes um pedacinho da escola de onde possivelmente escaparam. Em vez de afluentes do rio São Francisco e raiz quadrada, prazer, sensualidade, enlevo.
Vi hoje cedinho e, se alguém quiser minha opinião, achei estupenda a decisão dos dois. Toca pra daqui 70 anos: "Foi há muito tempo... Aqui onde estão esses prédios era um pico, aí eu..." Pois que alguns momentos ficam.
O TREM ITABIRANO
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