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OAB Itabira terĂ¡ 54 atletas nos Jogos da Advocacia Mineira
13/09/2022

 
(Mas em 2003 Jornal da Vale, produzido por itabiranos e distribuído
na cidade, manchetou que suas barragens tinham "segurança total")
 
Itabira, 20 de abril de 2000, por volta das 22h: o dique 2 da megabarragem-bomba Pontal, da empresa Vale, se rompeu. Estourou, colapsou, se arrebentou, poderia ter causado tragédia ambiental e humana em Itabira. A barragem-bomba Pontal acumula hoje cerca de 220 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração — a represa que causou hecatombe em Brumadinho tinha 12,7 milhões de metros cúbicos de lama.
 
Itabira, janeiro de 2003: o informativo Vale Notícias, veículo de propaganda das ações da ex-estatal em Itabira, distribuído na cidade, circula com esta manchete na capa: “Segurança total nas barragens”. Esse número, o 29, traz as represas de rejeito da Vale como assunto principal.
 
Discorrendo sobre técnicas de engenharia nessas construções, Henry Galbiatti, então gerente de geotécnica e hidrogeologia da mineradora, declarou que com os cuidados tomados pela Vale suas barragens eram capazes de resistir até “a um dilúvio”, o que evoca famosa frase atribuída ao capitão daquele navio operado pela empresa britânica White Star Line: “Nem Deus pode afundar o Titanic”.
 
“Segurança”, “rigor”, “técnicas avançadas” e outros termos aparecem com fartura no texto. “As barragens são seguras, mesmo sob impacto de grandes enchentes”, lê-se no supramencionado número do Vale Notícias, que por 20 anos, de 1998 a 2018, teve como redator o jornalista itabirano Carlos Cruz, que hoje usa seu portal internético, Vila de Utopia, para descer o pau na mineração exercida pela Vale, meio no qual retomou a função que exerceu por quase 20 anos, a partir de 1979, no extinto jornal O Cometa, a de mostrar problemas causados pela Vale a Itabira.
 
Sim, isto mesmo: o maior crítico da Vale em Itabira entre 1979 e 1998, como repórter em jornal privado, crítico no sentido de baixar o sarrafo, virou o maior propagandista da Vale em Itabira entre 1998 e 2018, como contratado pela Vale. Sem contrato com a mineradora, voltou a sentar a borduna na empresa, como pode ser lido em dezenas de textos em www.viladeutopia.com.br. Esse assunto merece livro e documentário, é fundamental para entender a trajetória da mineradora e excelente tema para estudantes de comunicação.
 
O caso ficou debaixo do silêncio. “Pouca gente sabe, mas o dique 2 da barragem Pontal se rompeu em 2000 e poderia ter causado uma tragédia”, comentou a promotora de Justiça Juliana Fonoff na tribuna da Câmara de Vereadores de Itabira, em julho de 2019. Em 2000 não havia O TREM, fundado em junho de 2005. Assim que soube do acontecido, o jornal procurou dezenas de pessoas para se informar sobre o caso e, em 99,9% das buscas, tomou “nunca ouvi falar” e porta na cara, batida por gente que na época trabalhava nas áreas de comunicação e meio ambiente da Vale.
 
O TREM insistiu: nomes não importam, o que interessa é o fato: entender para prevenir. Plaaaaft, porta na cara: “Faz tanto tempo, deixem isso pra lá”. Plaaaaft, porta na cara: “Respeito muito O TREM, mas nada tenho a dizer sobre isso”. Plaaaaft, porta na cara: “Não posso dizer nada”. É importante para Itabira saber o que houve, pelejava o jornal: plaaaaft, porta na cara.
 
Uma pessoa, no entanto, cujo nome será mantido em sigilo, contou o que se passou em Pontal naquela noite de quase tragédia, em 20 de abril de 2000: “Havia um lago isolado, uma bolsa de água a montante do barramento do dique 2. Num dia chuvoso, sobre esse lago isolado caiu um talude da estrada, a montante, no fundo do dique. O lago se expandiu e criou enorme onda, que bateu no barramento e este se soltou por inteiro, nas duas ombreiras, esquerda e direita, vindo a cair no lago do Pontal. Faltaram só 50 centímetros para a barragem galgar, transbordar”.
 
Não foi só, Itabira correu outro risco imenso. Em dezembro de 2005, dois anos depois de a Vale manchetar em seu jornal “Segurança total nas barragens”, por pouco a megabarragem-bomba Itabiruçu não explodiu sua carga sobre milhares de pessoas, bichos e tudo o mais pela frente. Houve um vazamento de água — surgência, em linguagem técnica — na ombreira esquerda da estrutura de contenção da represa.
 
A ocorrência mobilizou funcionários da Vale em tempo integral, dia e noite, até no dia do Natal. “A barragem tinha sido alteada para a cota atual, de 833 metros. Quando o lago estava enchendo, a surgência começou. Fizeram vários drenos horizontais profundos e injeção de concreto. Nada adiantou. Só resolveu após um geotécnico mandar jogar um montante de terra para tapar o vazamento”, informou aO TREM a mesma fonte técnica que opinou sobre o rompimento em Pontal. “Poderia, sim, ter causado tragédia”, acrescentou.
 
Itabiruçu é um monstro com 220 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração, quantidade 18 vezes maior que havia na represa causadora de hecatombe em Brumadinho.
 
VALE EM SILÊNCIO — O TREM procurou a Vale para responder a perguntas sobre o colapso em Pontal e sobre o vazamento em Itabiruçu, mas a multinacional optou por seguir a tradição de não dialogar com o jornal. A empresa garimpeira considera as perguntas da Casa muito difíceis de responder.
 
O TREM ITABIRANO.

 


 

 

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