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A EMPRESA GARIMPEIRA VALE JÁ TENTOU CONVENCER ITABIRA DE QUE BARRAGEM É ATÉ UMA COISA FOFA
15/08/2022

 
(é possível falar bem do inferno? É, provarei abaixo que é)
 
"Informação ruim pode matar pessoas, pode condenar cidades ao atraso. É preciso debater as informações publicadas em Itabira, é preciso vigiar os comunicadores itabiranos. Itabira não deve aceitar passivamente o que se publica", eu disse anteontem ao promotor de Justiça Bruno Oliveira, em audiência no Fórum da Comarca de Itabira.
 
Trarei agora um exemplo surreal. Manchete de setembro de 1999 do Minas Sul, informativo de propaganda das ações da empresa Vale em Itabira: "Barragens protegem cursos d´água". Está na capa desse informativo, que por 20 anos, de 1998 a 2018, teve como redator o jornalista itabirano Carlos Cruz, hoje um crítico da mineradora, crítico no sentido de mostrar o lado negativo da mineração, em seu portal Vila de Utopia, no qual retomou a função que exerceu por quase 20 anos, a partir de 1979, no extinto jornal O Cometa, a de mostrar problemas causados pela Vale.
 
Sim, isto mesmo: o maior crítico da Vale em Itabira entre 1979 e 1998, como repórter em jornal privado, virou o maior propagandista da Vale em Itabira entre 1998 e 2018, como contratado pela Vale. Esse assunto, que merece livro e documentário, é fundamental para entender a trajetória da mineradora, excelente tema para estudantes de comunicação.
 
Pergunto-me: quanto contorcionismo esse jornal, ainda que criado para defender a empresa Vale, precisou fazer para manchetar "barragens protegem cursos d´água" numa capa? Pensemos. Em 1999 as hecatombes ambientais com barragens causadas pela Vale em Mariana e Brumadinho ainda não haviam assombrado o planeta, mas o Brasil e o mundo já possuíam amplo histórico de desastres com barragens de mineração.
 
Já se sabia em 1999 que barragem é tormento dos diabos. Já se sabia que barragem mata pessoas, que barragem mata animais, que barragem mata árvores, que barragem desgraça rios, que barragem pode dizimar um vilarejo e que barragem desvaloriza imóveis em sua rota de destruição. Mas, para a Vale, conforme a manchete divulgada em Itabira, "barragens protegem cursos d'água". Que fofo!
 
Ora, ora, catrâmbias! Barragem é sinônimo de insegurança, de tormento. Uma barragem não aterroriza pessoas somente quanto se rompe. O fato de existir uma barragem já representa violência contra quem mora na área de alcance da represa e contra quem precisa circular nessa área, a trabalho ou por outra necessidade.
 
Se há barragem, já há sofrimento em sua área de influência. Uma barragem, só por existir, já tortura pessoas, pela ameaça que representa, pela iminência de uma catástrofe. Dezenas de milhares de itabiranos que moram na rota das 15 barragens da Vale podem confirmar esse terror.
 
O TREM recebe queixas frequentemente: crianças apavoradas, com transtornos emocionais, idosos que precisam se medicar para dormir, mulheres que acordam sobressaltadas de madrugada após estrondos, trabalhadores prejudicados por má qualidade do sono... Mas, para a Vale, conforme manchete de seu supramencionado informativo, "barragens protegem cursos d´água".
 
Esse malabarismo de informação da Vale é antológico, precioso para as escolas de jornalismo, precisa ser estudado, dissecado sob esta perspectiva: como é possível extrair do terror uma migalhinha positiva e a esta dar ênfase, ignorando todo o mal.
 
"Barragens protegem curso d´água" é como elogiar o inferno. Sim, é possível falar bem do inferno. Farei aqui, a quente, um comercial do inferno: "Inferno. Venha morar aqui. Um lugar amplo, bem iluminado, onde você jamais morrerá de frio e nunca precisará gastar dinheiro com fósforos".
 
O TREM ITABIRANO.
 

 


 

 

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