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VALE EXPULSARÁ ITABIRANOS DE SUAS CASAS E FARÁ MUROS DE CONTER TSUNAMISCaixa de entrada
30/04/2021

VALE EXPULSARÁ ITABIRANOS DE SUAS CASAS E FARÁ MUROS DE CONTER TSUNAMIS

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Marcos Caldeira otremitabirano@yahoo.com.br

qui., 29 de abr. 14:07 (há 10 horas)
 
para TREM
 
 
 
 
 
 
 
VALE EXPULSARÁ CENTENAS DE ITABIRANOS DE SUAS CASAS E FARÁ
MUROS IGUAIS AOS QUE O JAPÃO CONSTRÓI CONTRA TSUNAMIS
(Empresa se recusou a responder a 23 perguntas)
 
A megabarragem-bomba Pontal, que contém cerca de 220,5 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério, está dando muita dor de cabeça à empresa Vale. Imagine, então, aos milhares de itabiranos que moram abaixo da gigantesca e ameaçadora estrutura de água e lama metálica e têm suas vidas ameaçadas e suas casas economicamente desvalorizadas, sofrimento que pode ser resumido na triste e antológica frase do itabirano João Batista Carlos, residente a cinquenta metros do monstro Pontal: “Não desejo minha casa para ninguém”.
 
A mineradora pretende construir muros no local com tecnologia similar à que o Japão usa para tentar conter inundações causadas por tsunamis. Essa providência integra conjunto de ações no processo de descaracterização de diques no Pontal, informou Vicente Mello, da empresa Aecom, que presta aconselhamentos à ex-estatal e se reporta ao Ministério Público, durante reunião não presencial feita pelo MP com ativistas do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região, transmitida pela internet.
 
Para tentar evitar tragédia no Pontal, a Vale expulsará centenas de moradores dos bairros Nova Vista e Bela Vista, repetindo o esgarçamento cultural que a exportadora de minério já causou em outros pontos itabiranos, como vila Paciência, Centro e Cinco e Explosivo. A palavra é esta: expulsão. Qualquer outra será covarde eufemismo usado por gente sem osso, com gelatina nas veias e que não mora na rota da morte das barragens-bomba da Vale; por políticos fracos ou por jornalistas sem coragem de usar as palavras corretas, com medo de perder anúncio da mineradora. Expulsão, essa é a palavra, pois violenta o direito individual de escolha consolidada e rompe uma cultura de convivência construída em décadas.
 
Itabiranos que participaram da reunião virtual se disseram “perdidos”, sem informações suficientes do que pode ocorrer com suas vidas e cobraram transparência. Tuani Guimares, do comitê, chorou ao fazer esta queixa: “As pessoas [que moram na rota da morte de barragens-bomba] estão adoecidas, enlouquecidas. Já houve rompimento de barragem em Itabira e não queremos que aconteça Brumadinho aqui, ou Mariana. Fico estarrecida ao ver a Aecom apresentar essa quantidade de barragens a montante [método mais perigoso] em Itabira. Pesquisei na Agência Nacional de Mineração e não há informações lá de que essas estruturas são a montante. A Vale será responsabilizada por mentir? São 13 barragens com alto dano potencial associado em Itabira”. Ela cobrou do MP assessoria técnica independente para ajudar os atingidos e tachou a Vale de “criminosa, trata vidas humanas como se fossem descartáveis”.
 
Leonardo Reis, também integrante do comitê, questionou a prática usada pela Vale e Aecom de despejar termos técnicos sobre a população e disse enxergar nessa linguagem técnica e hermética uma estratégia de exclusão, o que, segundo disse, significa violência simbólica. “Há intencionalidade clara aí, visível em nosso cotidiano. Não podemos ser tratados como incompetentes. Porque são termos técnicos, não significa que não compreendemos o risco que corremos por morar embaixo de barragens, poeira e sirenes”, pontuou, e criticou o MP itabirano: “Tem se escondido muito atrás dos TACs [Termo de Ajustamento de Conduta] assinados”.
 
A Aecom informou que um estudo para antevisão de mortes de pessoas e animais e de destruição em caso de rompimento de barragem-bomba, feito pela Vale em diques do Pontal, estava furado, subestimou a quantidade de atingidos. Após revisão, concluiu-se que a destruição seria muito maior, sobretudo nos bairros Praia, Bela Vista e Nova Vista. No Praia, por exemplo, atingiria 1054 casas a mais do que foi previsto anteriormente.
 
A Aecom informou ainda ter enviado ao MP 22 relatórios sobre as condições das barragens-bomba da Vale, contendo 1006 recomendações, das quais 603, conforme a empresa de consultoria, atendidas pela mineradora. É preciso liberar essa papelada para quem quiser ler e questionar — quem tem medo da transparência?
 
O representante da Aecom admitiu o que ninguém bem informado ignora, e que é sempre bom reiterar: a exigência das normas de segurança para barragens-bombas de rejeito de mineração no Brasil é inferior à praticada no Canadá, Austrália, Estados Unidos e outros países. “As normas brasileiras, infelizmente, são mais complacentes que as internacionais”, afirmou Vicente Mello. Essa debilidade legislativa brasileira tem sua parcela de culpa pelos constantes desastres com barragens no país. Traduzindo: a falta de maior rigidez mata muita gente e animais. Sim, animais, comunicadores geralmente se esquecem deles ao noticiar desastres com barragens-bomba.
 
PROMOTORA ZEN
Chamou atenção a tranquilidade com que a promotora de Justiça Giuliana Fonoff, responsável pela área de meio ambiente da comarca, conduziu a reunião na internet. Calminha, calminha, toda zen, parecia uma nativa do Tibete após oração no cume do Himalaia. Corre risco de ser convidada a fazer propaganda de Maracujina. Promotora de Justiça pode ser assim, praticamente uma monja Cohen?
 
Não se tem notícia de posicionamento do secretário de Meio Ambiente de Itabira, Denes Martins da Costa, sobre o assunto. Nada, nada, nada, embora ele seja pago pela população de Itabira para “olhar essas coisas”. Expulsão de centenas de itabiranos de suas casas, ameaça a incontáveis animais, muros de prevenção contra tsunamis sendo planejados em Itabira, mas a secretaria municipal de Meio Ambiente sequer emite nota à população.
 
Nada se discutiu sobre o problema da desvalorização econômica das casas e outras edificações na rota da morte das barragens-bomba. É preciso enfrentar esse debate. Após assegurado o direito à vida, vem a questão patrimonial, de alta relevância.
 
VINTE E TRÊS PERGUNTAS À VALE — SEM RESPOSTAS
A reunião virtual suscitou 23 perguntas que O TREM propôs à Vale responder, mas a empresa preferiu seguir a praxe de fugir dos questionamentos do jornal, o que faz desde que O TREM noticiou, em 2018, a data para o fim do minério explorável em Itabira. Se um dia a Vale montar uma sala para tratar exclusivamente da transparência em suas atividades tão socialmente impactantes, certamente será revestida com vidro fumê.
 
O TREM ITABIRANO.
Foto: Esdras Vinícius/arquivo dO TREM.
 

 


 

 

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