2031: MINÉRIO DE ITABIRA ESTÁ MESMO ACABANDO,
CONFIRMA EMPRESA VALE EM NOVO RELATÓRIO
O minério explorável de Itabira está mesmo acabando, confirmou a empresa Vale por meio de seu anual Formulário 20-F, apresentado em 23 de março de 2021 à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. Não é trololó, não é consulta ao vento, não é papo do aplicativo WhatsApp, é documento.
Atenção, políticos, empresários e povo: a mineradora Vale documentou: o minério de Itabira está acabando. Sim, terminando, findando, exaurindo-se. O prazo passou de 2029 para 2031, ou seja, apenas alguns segundos a mais.
Ou Itabira resolve essa cruel dependência financeira (e espiritual) acerca do minério ou pode mergulhar numa depressão econômica de fazer 1929 parecer tempos prósperos. Avante, políticos! Avante, povo! Avante, empresários! Avante, intelectuais... Não, melhor suprimir está última categoria, está claro que com ela Itabira não pode contar.
A notícia do fim do minério em Itabira foi um furo jornalístico dO TREM, dado em 30 de maio de 2018. Antes de o jornal fazer circular essa informação, havia saído apenas — e sem nenhuma repercussão — num fechado portal especializado em mineração.
Em 2019, em novo Formulário 20-F, a mineradora confirmou o fim para 2028, em 2020 informou ter ganho um ano a mais, 2029, e agora explica ao mercado que o produto em Itabira chega ao fim em 2031.
INFORMAÇÃO CIRCULOU E A VALE FICOU BRAVA
Após O TREM soltar a notícia em 2018, Itabira mergulhou num oceano de justificadas aflições. A Vale ficou irritadíssima e indexou o jornal. Nunca mais anunciou nO TREM — e era, verdade seja escrita, baita anunciante de mais de uma década. Nunca mais respondeu a nenhuma pergunta do jornal e excluiu O TREM até da sua lista de envios de press releases.
Fez belém, belém, nunca mais ficar de bem, e criou antagonismo histórico em sua trajetória de quase 80 anos. É a primeira vez que a mineradora corre tão acintosamente de um meio de comunicação. Com os demais comunicadores locais, a exportadora de minério dialoga, se mostra satisfeita com o jornalismo praticado por eles.
O jornal perdeu o dinheiro do anunciante, foi boicotado, mas cumpriu o compromisso de tratar informação como bem coletivo e deu a Itabira notícia fundamental para o presente e futuro do município.
Logo depois da notícia, Vale e prefeitura organizaram entrevista coletiva, para a qual O TREM não foi convidado, e anunciaram criação de comissão para estudar soluções para Itabira se tornar independente da mineração, batizada pelo jornal de Comissão do Fim do Minério — troço anêmico, sem transparência.
No início de 2019, textos dO TREM sobre o fim da mineração e barragens-bomba da Vale, veiculados amplamente no Brasil, motivaram a emissora Globonews a vir a Itabira e produzir, em parceria com o jornal, um documentário sobre os dois assuntos, veiculado quatro vezes no canal por assinatura da Rede Globo. Outros grandes meios de comunicação do país também pautaram Itabira, contando sempre com colaboração não-remunerada dO TREM.
UNS MILHÕEZINHOS ATÉ QUE SAÍRAM DO COFRE
Em 2019, a mineradora repassou R$ 100 milhões à prefeitura de Itabira para ampliar o câmpus da Unifei e em 2020 anunciou repasse de R$ 160 milhões ao município para obras de captação de água, muita da qual será usada pela própria empresa em seu processo de mineração, voraz bebedor.
São os principais lances, até agora, dessa recente, e ainda tímida, tentativa de livrar Itabira da dramática dependência da mineração, liberdade que já era para ter sido conquistada há pelo menos 30 anos.
