PSFs continuam sendo sinônimo de padecimento na periferia de Itabira
Até ontem, dia 22 de fevereiro, a reportagem visitou três sedes regionais do Programa
de Saúde da Família (PSF): Nova Vista, Bethânia e Gabiroba de Cima. Em todos
encontrou irregularidades gritantes. O Governo Federal e a Prefeitura contratam 32
médicos para o atendimento durante oito horas diárias, de segunda a sexta-feira, em
Itabira. A maioria cumpre uma ou duas horas por dia.
Falta tudo o que se possa imaginar, como atendimento à saúde em todos os sentidos. Já
divulgamos os sérios problemas dos três bairros. Hoje chegou a vez do Bairro Santa
Marta, depois Santa Ruth, onde, pelo menos no primeiro bairro, as questões que afetam
o povo continuam no mesmo ritmo, ou piores.
HORTA NÃO FECHOU A CERCAS
Na semana passada, moradores do Santa Marta denunciaram que, quando o zelador do
PSF abriu as portas para o atendimento ao povo, aglomeravam-se na porta dezenas de
pessoas – homens, mulheres, crianças, idosos, gestantes - e ainda mais, na chuva.
Aberta a porta lá foram encontrados bezerros, que se abrigavam em defesa própria. Se
algum estranho chegasse ao local, com certeza pensaria que se tratava de um curral para
atendimento a animais e que no lugar de médicos chegariam veterinários. Mas nada
disso ocorreu: nem médico, nem veterinário. O povo cuidou de espantar os animais e foi
embora.
Ontem à noite (22), na porta do gabinete do prefeito Marco Antônio Lage, a secretária
de Saúde, Eliana Horta, garantiu, categoricamente, sob testemunho do chefe do
executivo, que tinha mandado arrumar a cerca que impediria a entrada de animais.
Declaração anotada.
Hoje (23), a reportagem esteve no local e encontrou as cercas abertas. Faltava um
convite aos animais que continuassem se utilizando do “curral”. Hoje eles ainda não
chegaram.
O grande e grave problema é que os mandatários são normalmente enganados. É um
fato que ocorre diariamente há muitos anos e que o prefeito atual, com a ajuda do vice-
prefeito, Dr. Marco Antônio Gomes, que é médico, ambos tentam resolver.
ÀS TERÇAS-FEIRAS SÓ CASOS AGENDADOS
Nesta manhã de terça-feira (23), a reportagem esteve no Bairro Santa Marta. O primeiro
sinal de irregularidade é o atendimento. Vejam a placa: “Terça-feira. Unidade fechada.
Somente atendimentos agendados”. Quem chega com problema urgente para resolver
não “merece” atenção. Doença no Santa Marta tem dia marcado para ocorrer?
EXAMES, QUASE NEM PENSAR!
A reportagem falou com quatro moradores do bairro Santa Marta. Voz uníssona de
todos: exames de diagnósticos “demoram uma eternidade”. Constatamos que a
“eternidade” dura pelo menos 120 dias: dois meses para agendar e dois meses para fazer
o exame. E há casos em que o paciente não consegue mostrar os resultados por não
encontrar o médico. Um ano para o paciente se curar sem precisar de atendimento
médico.
O senhor Genésio Cassimiro, de 35 anos, reclama da falta de gerente no Santa Marta, às
vezes falta atendente também. “As informações são dadas de boca a boca”, concolui. O
mesmo ocorre com a senhora Marta Leandro Simões, 76 anos, que está necessitada de
uma série de exames a serem inicialmente requeridos; “Estou cansada de vir aqui, isso
adoece a gente também”, afirma.
Há casos de crianças e inúmeros. Um filho de colo de Andréa, de 32, que necessita de
consulta mas não consegue com facilidade. “É uma luta dramática!” — reclama. A “via
sacra de cada um continua”. Vai no Santa Marta, mandam para o Santa Ruth; chega no
Santa Ruth, devolvem para o Santa Marta. Só heróis e heroínas.
BEZERROS CONTINUAM COM ACESSO LIVRE
Pelo menos até hoje, os bezerros, que vivem às soltas no Bairro Santa Marta continuam
com passaporte livre, podem entrar, podem sair. De vez em quando os pretensos
pacientes (ou seriam impacientes?) os tocam para outro lugar de pastar. As ordens e as
informações da secretária de Saúde, pelo menos por enquanto (até 9h30 de hoje), ainda
não foram atendidas.
SANTA RUTH DAQUI A POUCO
Daqui a pouco estaremos no Bairro Santa Ruth, onde estão concentrados outros
sofredores à procura de um milagre, seja para consultas, seja para marcarem exames,
seja para mostrarem ao médico os seus resultados.
Esclarecendo que o PSF Santa Marta é também sede do PSF Santa Ruth, uma vasta
região atendida unicamente por um médico e total desorganização. Faltam gerentes,
faltam fiscalizadores. O povo merece.
