Apesar de o fechamento da cidade ter evitado o colapso do sistema de saúde, os resultados no combate à Covid-19 ainda estão “longe do ideal” em Belo Horizonte, afirma o infectologista e membro do Comitê de Enfrentamento à Pandemia na cidade Estevão Urbano. Em entrevista a O TEMPO nesta quinta-feira (28), ele, que havia previsto no último dia 8 que o fechamento do comércio deveria durar “no máximo três semanas” em BH, pontuou que a chance de que seja decretada a reabertura do comércio, por ora, é “muito pequena”. Uma coletiva de imprensa para tratar do assunto foi convocada para esta sexta-feira (29) pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD).
Leia mais: Decisão sobre reabertura de BH vai considerar variante da Covid-19 e vacinação
“Estamos satisfeitos (com a queda nos números), mas está longe do ideal. Infelizmente, tem muita gente voltando de férias, e quem se contaminou no réveillon, no Natal, contaminou outras pessoas. Foi bom, evitou um colapso (no sistema de saúde). Valeu a pena, mas a expectativa de reabertura é pequena. Vamos ver, é uma chance, mas é muito pequena. Temos uma ideia (sobre o avanço da doença), mas o impacto vai ser menor ou maior dependendo da população. Os resultados não foram o ideal, ainda tivemos o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Está meio pesado (o nível de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva), mas só de não ter tido colapso estamos satisfeitos”, defendeu.
A condicionante apontada pelo médico na época quando previu o período para a reabertura era a melhora dos indicadores da pandemia na cidade – o que, em parte, ocorreu. Em 8 de janeiro, os três índices que medem a gravidade da pandemia na capital – taxa de ocupação em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e em enfermarias, e transmissibilidade do coronavírus – marcavam, respectivamente, 83,3%, 65,3%, e RT 1,03. Os números pioraram dias depois, chegando ao ápice de 86% de ocupação em UTIs na última segunda-feira (25).
Contudo, nesta semana, os indicadores retroagiram sistematicamente. Houve quatro dias seguidos de quedas nos três índices determinados pelo Comitê de Enfrentamento. Contudo, os patamares ainda estão altos, em especial na ocupação de UTIs, que se mantém no nível mais grave de risco, vermelho, com percentual de uso de 76,4% das UTIs destinadas para pacientes de Covid-19 nesta quinta-feira (28). A taxa nas enfermarias, que está no nível amarelo, de alerta, marcou 57,2%, e, a transmissibilidade, RT 0,95. Isso quer dizer, em suma, que cem pessoas que estejam infectadas transmitem a doença para outras 95, o que indica retroação da pandemia.
“Nós temos a esperança de que com duas e no máximo três semanas a gente possa reverter, começar a reverter o 'lockdown'. Óbvio que não dá para cravar, uma situação imprevisível, porque se trata de um vírus, um comportamento muito aleatório. Mas o que nós estamos aprendendo com as experiências do mundo inteiro é que com duas a três semanas nós já conseguimos contornar esta curva e voltar a uma certa normalidade mais rapidamente do que no início da pandemia. Eu acredito que, no máximo no início de fevereiro, nós já começamos a vacinação em Belo Horizonte”, afirmou à época.