A Procuradoria Geral da República apresentou quatro denúncias contra o senhor no âmbito da operação Acrônimo, onde é acusado de, enquanto ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do governo Dilma Rousseff, ter lavado dinheiro e ter criado uma espécie de caixa 2 beneficiando grupos econômicos e tendo recebido propina em troca – inclusive, a mulher do senhor foi denunciada. O que tem a dizer sobre essas denúncias?
Que é tudo mentira. Vou repetir em alto e bom som para Minas Gerais inteira. Eu não fiz isso antes e vou te explicar o porquê. Não fiz antes porque eu deixava a cargo da minha defesa produzir o material necessário, uma vez que nós estamos na fase pré-judicial. É na fase de inquéritos, e aí você tem que ter cautela para não ferir os brios de quem está te investigando. Pois agora vou lhe dizer com todas as letras. É tudo mentira e é uma armação o que foi feita contra mim e minha família. E vou lhe dizer mais: eu vou ser absolvido de tudo e vou fazer os responsáveis por isso pagarem pelo que fizeram, pelo dano que fizeram a mim e minha família.
Quem são os responsáveis por isso?
Nós vamos apurar ao longo dos inquéritos, porque nós já temos testemunhos, inclusive de gente da Polícia Federal, dizendo como que foi feita a armação lá dentro, como que foi produzida isso que se chama operação Acrônimo, um monte de inverdades, uma delação mentirosa. Há três anos e meio investigam minha vida. Sabe o que encontraram? Nada. Não tem nada para encontrar. Não tem conta na Suíça, no Caribe, não tem dinheiro oculto em lugar nenhum, não tem patrimônio oculto, não tem laranja, não tem mala de dinheiro, não tem áudio, não tem vídeo. Não tem nada. A minha vida é limpa. E eu, agora, vou para cima. Os inquéritos estão na 10ª Vara de Brasília, em primeira instância. Vou me defender lá. Já temos depoimentos de gente que participou da armação dizendo como que ela foi feita.
Quais erros o senhor cometeu nesse mandato como governador?
Por exemplo, eu deveria ter dito isso que estou dizendo agora com três meses de mandato. Com três meses de governo eu devia ter parado de pagar os salários. Eu não sei se você sabe, mas nós encontramos lá no caixa do Estado, na época era R$ 1,2 bilhão de restos a pagar da gestão anterior e mais ou menos R$ 1,5 bilhão de empenhos cancelados. Empenho cancelado é meio cansativo falar, o ouvinte não vai entender, mas é um documento contábil interno que permite o pagamento da fatura. Chama-se “empenho”. Eles cancelaram os empenhos. Ou seja, o sujeito prestou um serviço para o Estado, teria que receber. Aí o governo passado cancelou os empenhos, e eu não tinha como pagar. Eu poderia não ter retificado. Poderia deixar os empenhos cancelados e deixar essa dívida para trás. Dizer: “Dívida do governo passado eu não vou pagar”. Então, essas escolhas que foram feitas eu fiz. Se elas estão certas ou erradas, a responsabilidade é minha. Eu assumo essa responsabilidade. Agora, o que não posso é mentir para a população. Eu não posso fazer essa mistificação que estão fazendo e que o senhor Anastasia também está fazendo – falar: “Não, comigo eu regularizo, na minha época eu pagava em dia”. A sua época era época do Lula, a época das vacas gordas, os dois mandatos do Lula e da Dilma. A época de dinheiro abundante e governos generosos que foram os governos petistas com os governadores. Não era época dessa monstruosidade que está la em Brasília, que foi o governo (de Michel Temer) que ele (Anastasia) patrocinou e colocou lá. E, desde então, tem votado como senador tudo a favor do governo Temer. Ele é cúmplice com essa tragédia que se abateu sobre o Brasil.
Durante o governo do senhor, por diversas vezes o Estado atrasou repasses para as prefeituras da cota-parte do ICMS e do IPVA. Não é injusto que os prefeitos paguem por um rombo que é do Estado?
Você tem razão em levantar essa questão, porque isso faz parte das trágicas escolhas que os governos têm que fazer em momentos de crise, como a que nós estamos vivendo no Brasil, e Minas é parte importante do país. Ninguém atrasa o repasse porque quer, ninguém faz essa escolha por vontade própria. Você faz essa escolha porque tem que fazê-la, por circunstâncias que fogem do seu controle. E é o que aconteceu no nosso caso. Nós optamos por manter funcionando os serviços públicos, como a segurança, e conseguimos. Mas, para isso, como o déficit do Estado chegou em alguns anos a mais de R$ 8 bilhões, é necessário, sim, controlar o fluxo de caixa de maneira a assegurar o pagamento de certos setores, ainda que isso signifique o atraso de outros. Isso é o que ocasionou uma dilação de prazo no repasse do ICMS e do IPVA para os municípios. Mas já está corrigido, todos estão em dia agora. Nós temos, sim, ainda algum atraso, naquele quesito do Fundeb, que é uma verba específica – essa não é uma obrigação constitucional –, mas é uma obrigação que temos que cumprir. Essa vai ser cumprida tão logo a gente consiga concretizar a operação financeira que foi autorizada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, há 15 dias, que é a securitização de uma parte da dívida ativa do Estado. Com esse recurso, vamos regularizar esse repasse, também os da área de saúde, hospitais filantrópicos, e eu acho que vai ser possível, se tudo correr bem, diminuir um pouco também a escala de pagamento da folha, que eu sei que incomoda o servidor público, e que, de fato, não é uma escolha nossa, é uma imposição das circunstâncias. Governar em crise é muito difícil, mas governar em crise com um governo federal hostil ao Estado, como é o governo do presidente Temer, é mais difícil ainda. No entanto, estamos governando. A segurança está funcionando, as escolas estão funcionando, os postos de saúde estão funcionando, o Estado não entrou em colapso e está melhor do que grande parte dos Estados, que está na mesma situação que nós.
O senhor fez algumas propostas, quando era candidato em 2014, como pagar o piso salarial nacional para os professores, criar a nota social, implantar as Umeis nos 853 municípios, construir o eixo rodoviário da região metropolitana de Belo Horizonte, criar o bilhete único e integrado e construir as linhas 2 e 3 do metrô de Belo Horizonte, entre outras. O senhor não cumpriu nenhuma dessas promessas. Por que o eleitor deve lhe confiar mais quatro anos de mandato tendo o senhor descumprido essas promessas tão importantes?
Eu não cumpri integralmente uma parte delas. Outras, nós estamos em processo de cumprimento. Vamos falar do piso salarial dos professores: demos, mesmo com o Estado em crise, com dificuldade enorme, 47% de aumento no salário médio dos professores. Todos os professores da rede estadual sabem disso e reconhecem. Policiais: nós aumentamos o efetivo, já convocamos 7.000 policiais militares e mais de 1.200 policiais civis, entre peritos, investigadores, escrivães etc. Então, estamos a caminho de cumprir algumas coisas. Agora, a maioria dessas coisas que você mencionou, que, é verdade, estavam no programa de governo, não foram cumpridas simplesmente por falta de recurso, por falta de dinheiro. Nós recebemos um Estado quebrado, o que é pior, não foi feita a transição. Quando fizemos as reuniões de transição, logo depois das eleições, as contas do Estado foram maquiadas, só descobrimos que havia essa maquiagem depois que tomamos posse. Chegamos lá e descobrimos que o Orçamento do Estado era fictício. O Orçamento que tinha sido apresentado na ALMG previa um superávit de R$ 1 bilhão e pouco. Mentiroso! Na verdade, ele tinha era um déficit embutido de R$ 7,2 bilhões no primeiro ano, depois até aumentou. Então, tivemos que desmontar isso tudo. Resultado: aquilo que imaginávamos ser possível de fazer não era possível fazer. Mesmo assim, insistimos em cumprir aqueles compromissos básicos com a educação, com a saúde e com a segurança. Tentamos pagar o piso, melhoramos muito o salário dos professores, mantivemos o aumento que o governo anterior tinha dado para a Polícia Militar. Ele deu aumento, mas quem pagou fomos nós. Se não tivéssemos dado o aumento dos professores e mantido o reajuste que havia sido prometido pelo governo passado para a Policia Militar, hoje o Estado estaria com a folha equilibrada. No entanto, honramos esses compromissos. Agora, é claro, tudo era impossível. Do jeito que herdamos o Estado e com a crise que se seguiu, a recessão econômica, especialmente em 2015, tivemos uma queda de receita brutal, que prosseguiu. Mas depois nós conseguimos recuperar a receita de ICMS, mas a atividade econômica continuou caindo, e teve o golpe de Estado em 2016, tudo somado, nós enfrentamos um tsunami, ao qual a gente não estava minimamente preparado, não tinha a menor expectativa de uma coisa daquele tamanho. Então, a explicação é essa. Nós, obviamente, para um segundo mandato, vamos tentar recuperar o que for possível disso, mas, agora, com um realismo muito maior. Eu acho que a gente tem hoje um conhecimento da realidade do Estado, não só da máquina pública, mas do Estado como um todo: como ele funciona, quais as características dele, de uma maneira que eu acredito que podemos ser o único candidato que vai apresentar uma proposta real, verdadeira, factível para o eleitor mineiro.
Em cima dessas propostas, a questão dos professores, o senhor explorou muito isso, garantindo o pagamento desse piso, além da questão dos policiais, dessa efetivação. O que o senhor tem a dizer para essas duas categorias sobre o cumprimento dessas promessas, caso o senhor seja reeleito?
Vamos manter as propostas que temos, começando pelo final. O que você está mencionando são excedentes do concurso da Polícia Civil. Fizemos um concursos onde o edital previa mil ou 1.200 vagas. Aqueles que foram aprovados, além desse número, são excedentes, você não tem como chamar, a não ser que se abra vaga. Além desses, já chamamos 450, se eu não me engano. Então, esses cidadãos que estão protestando, claro que eles têm o direito de protestar, mas eles têm que esperar abrir vaga. Vamos, inclusive, prorrogar o prazo deles para que se garanta o direito dos que foram aprovados e, porém, não nomeados.
Quando essas categorias podem voltar a receber os salários delas em dia?
Mas o salário não está atrasado. Estamos pagando... Estamos no dia 30, amanhã (sexta), 31, eu posso assegurar que 95% dos servidores já receberam o salário integral. Você tem 5%, que são os salários mais altos, aqueles de renda mais alta, que uma parte do salário ainda não foi paga. O que eu estou chamando de atraso é você passar o mês, é de um mês para o outro. Se você está pagando dentro do mês, você está pagando regular. O ideal seria pagar no primeiro dia.
O senhor responsabiliza a Previdência pelo desequilíbrio das contas. Qual a solução?
Temos que criar um fundo que se responsabilize pelo pagamento da folha da previdência com fontes de financiamento que não seja o imposto dos mineiros. Esse fundo já existiu e foi extinto pelo candidato Anastasia, quando foi governador em 2013. Por isso que eu digo: um dos grandes responsáveis pelo rombo que o Estado tem hoje, pela tragédia financeira que estamos vivendo, é o Anastasia. Espero que, ao longo dos debates, ele assuma a responsabilidade sobre o que fez e sobre o golpe que deu.
O partido do senhor ficou 13 anos no poder. Por que não fez isso em nível nacional?
Tentou fazer a reforma da Previdência, ela esbarrou na Câmara e não passou. Acho até que devia ter insistido, não insistiu, isso foi no governo Lula, não insistiram e não passou. Depois, o governo Temer tentou fazer uma reforma que não ia passar, mesmo porque cortava direito dos trabalhadores.