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O poder vence o dinheiro. Quem vai prevalecer?
Colunista 30/03/2016

 
 
 

De vez em quando, um contestador de minhas ideias expressas em crônicas ou postadas no Facebook me manda mensagem, ou me aborda na rua, ou me telefona, quase sempre questionando ironicamente: “A vida é bela, hein?” Outro dia foi na movimentada Avenida João Pinheiro, daqui de Itabira, eu de olho num agente fiscalizador de trânsito que atropelava a caneta no papel em multas imperdoáveis aos pobres-coitados. Tentava eu mudar de assunto devido à costumeira falta de tempo e ao medo de levar uma traulitada da Transita, mas o amigo não parava de cobrar. Queria uma resposta, ou respostas, ao tema de minhas palestras: “Onde e como você encontra uma explicação para essa droga de vida bela que inventou?”

E saiu a desfiar os nomes e as localizações de pelo menos duas dezenas de guerras que nos dias de hoje assolam e massacram o mundo. Conhecendo pelos jornais da TV e alguns links da internet a tragédia que começou na Síria e chega à Europa, com milhões e milhões de vítimas de um conflito quinquenário, ele jogou na minha cara como se fosse eu o responsável pelo sofrimento de homens, mulheres e crianças na fuga desenfreada e suicida que empreendem na busca de um lugar para viver. Não parou na Síria, citou o Oriente Médio e começou a tripudiar sobre a humilhação imposta pelo terrorismo aos países de primeiro mundo. Quase sentei-me no meio-fio com ele e me pus a chorar, tal a dramatização que até chamava a atenção das criaturas aéreas e alienadas que transitavam por ali. Indiferente aos olhares curiosos, prosseguia a encenação aquele velho amigo de tempos idos, quando eu era vereador e ele já tinha a mania de me exigir prestações de conta de meu mandato.

Falou tanto que não há espaço para registrar nestas linhas, mas vou tentar resumir a ênfase que deu à gravidade do terrorismo. Analisem o que disse: “Há 15 anos, ninguém podia pensar que um ser humano qualquer tivesse a ousadia de rechear o corpo de bombas como se fosse um rocambole explosivo e detonar o arsenal com o simples e estranho prazer de matar, além dele próprio, dezenas de seres inocentes. Pois aí está o mundo em que vivemos. Que mundo é esse?” Sem sequer engolir saliva, continuou com o seu comício atemporal: “E não só o terrorismo, mas também as lutas dentro das famílias, as brigas entre pais e filhos, irmãos com irmãos, maridos com esposas, enfim tudo, às vezes terminando em suicídios inexplicáveis!” Ele parecia esperar de mim respostas, mas não me deixava sequer abrir a boca, pelo menos até chegar no tema política.

Começou citando Itabira que, para ele, parou de progredir por falta de visão político-administrativa. “O povo vota em candidatos que lhes inspiram simpatia mas não vê o principal que é a honestidade e a sua competência empreendedora”. E passou pelo governo do Estado: “Eu  me enganei votando neste governador que aí está, mas, olha, pensei que pudéssemos melhorar, estamos caminhando para o fundo do poço”. Sabia que chegaria ao governo federal, como o pegou em cheio imediatamente, depois de marretar deputados e senadores. “Não vou nem declinar os erros dessa bagunça vivida em nosso Brasil. A economia acabou, a moral não existe, a ética se evaporou e a roubalheira tornou-se humilhante e institucionalizada. O pior, estou sem esperança porque, pelo visto, ninguém vai se salvar”.

Em seguida, finalmente, olhou para mim, aguardando uma resposta a tudo de uma só vez. Como faria tal milagre? Mas ousei-me em, inicialmente, defender a vida, que é um presente para a nossa evolução, um desafio. Sempre de acordo com a resistência de cada um, somos escolhidos para recebê-la como oportunidades de ouro. Bela, sim, porque, quando terminamos de executar um ato de bondade, imediatamente nos sentimos gratificados. Esse estado de ser é uma sensação emocionante do simples dever cumprido, exatamente o que nos faz sentir a beleza de nossa passagem pelo mundo.

O que vem depois um ou outro sabe. Depende da evolução, percepção, exigência de existir. Mas estou terminando e não falei do Deus-Dinheiro, que é o tema destas linhas. Então, tenho uma revelação a fazer: diante das roubalheiras de políticos, empresários, administradores, espertalhões que se multiplicam por aí, um expoente quase concreto é o senhor todo-poderoso que está governando o planeta: o Deus-Poder. Sim, o poder chama a moeda circulante por meio da corrupção e aí se escancara o nome de quem realmente está mandando. Acabar com a corrupção é possível, sim, mas, incrível, as autoridades pensam apenas em reduzir, diminuir, rebaixar a “nível aceitável”, como se a honestidade pudesse ser medida. É um assunto também interessante: se acabar a corrupção, chega ao fim o trabalho dos caçadores de bandidos, que serão dispensados de seus empregos. Que mundo é esse? — repito, imitando o meu amigo da Avenida João Pinheiro.

Por enquanto, vale dizer que esse mundo não é o nosso apropriado mundo. Deixei esse grilo tilintando na cabeça de meu amigo que quase me fez levar uma multa de trânsito e perder horários de compromissos inadiáveis. Mas me deixou feliz porque se acalmou como se tivesse engolido um santo Rivotril.

 


 

 

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